EXPLICANDO A FILOSOFIA COM ARTE

EXPLICANDO A FILOSOFIA COM ARTE

 

EXPLICANDO FILOSOFIA COM A ARTE

 (CHARLES FEITOSA)

 CHARLES FEITOSA

Charles Feitosa é doutor em filosofia pela Universidade de Freiburg, Alemanha, e de maneira inteligente elaborou este belíssimo livro que nos introduz ao magnífica mundo do pensar. Aqui você poderá ver o resumo deste trabalho que com certeza nos ajudará muito em nossas aulas de Filosofia e Arte.

Sabemos que a história da filosofia é a "nossa própria história";pois somos o resultado de um longo processo de errâncias. Qualquer reflexão nossa sobre os problemas mais urgentes e atuais, permanecerá impotente se não levar em conta as origens da sociedade. Em determinados momentos a história da filosofia pode funcionar como intimidação, tolhendo nossa capacidade de pensar criativamente.

Explicar a filosofia através da arte não se restringe a usar coisas belas como ilustração ou adorno. É preciso buscar a combinação da ótica do filósofo com a ótica do artista até que se contaminem reciprocamente. A parceria entre a filosofia e a arte torna possível tratar com alegria e leveza alguns temas importantes e complexos da cultura e da existência, tais como o sentido da realidade, o lugar da ciência na sociedade, as interpretações do corpo e da natureza, a relação entre arte e verdade, a transitoriedade do amor e inevitabilidade da morte.

1. UM OLHAR DIFERENTE

 * MORA NA FILOSOFA

O QUE É FILOSOFIA? A expressão filosofia vem de uma associação dos termos gregos philia (amor, amizade) e sophia (sabedoria) e significa literalmente "amor pelo saber". O termo exige portanto um certo cuidado: o filósofo não é um sábio - aquele que se sente cheio de certezas - mas sim alguém que está constantemente à procura do conhecimento. Pelo relato tradicional, Pitágoras teria sido o primeiro a usar a palavra "filosofia". Na era mais arcaica (V-VI a.C), o termo sophia designava um tipo de saber que incluía conotações mais práticas, ligado tanto ao artesanato como ao comportamento ético.

Pouco se sabe da vida e obra de Pitágoras (c.580-496 a.C), que não deixou nenhum documento escrito. Seus principais interesses eram a matemática, a astronomia e a música. Diógenes Laertius (III d.C), autor da mais antiga história da filosofia ainda preservada (escrita em 220 d.C), fez o seguinte comentário sobre o pensador: "Pitágoras comparava a vida com uma festa, em que alguns vão para competir pelos prêmios, outros comparecem para fazer negócios, mas os melhores vão como observadores. os primeiros revelam-se como almas escravas, enquanto os últimos se apresentam como amantes da filosofia [filósofos]" (Vida e opiniões de Filósofos, p. 114).

 

DISPOSIÇÃO PARA VERTIGEM

 a festa

                Primeiramente,   a filosofia não é um conjunto de conhecimentos ou de  doutrinas, mas uma atitude ou posicionamento perante a vida. Não são necessários talentos intelectuais extraordinários , tampouco possuir muitos conhecimentos, nem formação escolar para filosofar; basta ter disposição para ver de outro jeito o que se passa à sua volta.

                 Existem por aí muitos misósofos (do grego miséo = odiar, detestar), ou seja, aqueles que tem aversão à sabedoria, do que filósofos. Por quê? Não há uma razão única. Por ser uma forma de amor, a filosofia não é uma atividade puramente intelectual como se imagina costumeiramente, mas envolve também nossa capacidade de sentir, de nos emocionar, de sermos tomados de afetos. Como é possível aprender um sentimento? Talvez uma das maiores dificuldades para quem quer fazer filosofia consista justamente no fato de que independe da vontade sentir o “amor ao saber” Os afetos, tais como o amor, o ódio, a alegria ou a tristeza, são algo que nos tomam de assalto e nos determinam, a despeito ou até contra o nosso querer. Assim como é inconcebível agendar o amor – embora com algum esforço seja possível recusá-lo - , mas também não basta apenas querer o pensamento, é preciso também deixar-se levar por ele.

                Uma outra razão para a desconfiança em relação à filosofia é que pensar envolve perigos. Sabemos que a indagação filosófica pode gerar  instabilidade. Às vezes tudo parece estar bem e estamos satisfeitos com nossa vida, então somos defrontados com questões complexas, aparentemente sem solução, e entramos em crise. A crise é um momento doloroso, na medida em que é um estado  de incerteza, quando a vida parece não ter mais sentido.

                A maioria dos filósofos hesitou em assumir o caráter amoroso do pensamento. Essa recusa está em geral associada a uma visão preconceituosa do amor, como se fosse apenas a expressão de uma carência e uma debilidade. Se desejamos algo, é porque não o temos. Amar a sabedoria seria então uma confissão resignada e persistente da própria ignorância. A noção do amor sempre esteve ligada à irracionalidade, à passividade e ao descontrole de si, enfim, tudo que é contrário ao pensar.

                “O amor é uma grande festa em que cada um dança do seu próprio jeito uma música comum a todos. Se entendermos o amor como uma forma de respeito e atenção para com o diferente na sua diferença, seja uma outra pessoa, cultura, religião ou estilo de vida, por que não deixar que a filosofia se assuma como um tipo especial de amor?”      

IMAGENS DO FILÓSOFO

FILOSOFO

          Quando lembramos do filósofo, logo nos vêm à mente algumas imagens e uma delas é a figura de um homem velho, pois a velhice estaria em geral associada à maturidade e à sabedoria. O que nos leva a conceber o filósofo como um ser frágil, e até mesmo doente. É como se o filósofo não precisasse do corpo para pensar e acabasse definhando por falta de uso. O filósofo não praticaria esportes, nem gostaria de dançar. Sendo um homem doente do corpo, talvez seja também doente das ideias, um pouco louco. De tanto meditar, o filósofo perde completamente o contato com a realidade. O filósofo parece então viver em outra dimensão, no "mundo da lua".

           A imagem mais famosa e mais marcante do filósofo está materializada na obra em bronze do escultor francês Rodin(1840 a 1917) Intitulada O PENSADOR (1881). É como se tudo ao seu redor parasse e só houvesse espaço para o pensamento.O fato desta paralização completa indica que qualquer movimento pode atrapalhar a circulação das ideias na sua mente.

 o pensador

                A filosofia vive com a suspeita de ser uma atividade inútil e alienada desde os seus primórdios. A tradição narra que Tales de Mileto, considerado o mais antigo de todos os pensadores, caminhava à noite tão envolvido em suas meditações sobre o universo que caiu em um buraco, sofrendo várias escoriações. Esse fato marcou a imagem do filósofo: alguém por demais preocupado com problemas abstratos e incapaz de lidar com as dificuldades da vida concreta e cotidiana. Tudo se passa como se a filosofia fosse um jeito de não enxergar o mundo, Muito pelo contrário. Adentrar ao mundo do pensamento depende da compreensão de que a filosofia realiza de fato apenas uma forma diferente de olhar para a realidade.